"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! "

Eça de Queiroz - O primo Basílio

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

CUMPLICES




Olhavam-se por horas... Buscavam um alento, algo mais que um olhar.
Sentiam-se bem um com o outro... Às vezes nem mesmo as palavras faziam falta.
Era bom ouvir o silêncio de cada um. Entendiam-se mais...
Não. Nunca houve dúvidas.
Havia sim, o medo de que o tempo, fosse novamente o algoz de suas vidas e acabasse com as suas fantasias...
Haviam sofrido. Ah! Sim, esse era um detalhe importante. Em alguns a entrega não deixa marcas tão profundas, mas com eles tinha sido diferente... Eram sensíveis, muito sensíveis, e embora essas marcas hoje fossem apenas cicatrizes, ainda queimavam, ainda ardiam insistentemente, lembrando-lhes um passado não muito distante.
Mas eles eram felizes quando estavam juntos. E não precisavam de muito, na verdade eles tinham exatamente tudo o que precisavam quando estavam juntos... Eram adultos, eram crianças, eram frágeis e fortes...
Eram belos! De uma beleza singular, porque assim se viam, absolutamente cheios de defeitos, mas acima de tudo humanos. Admiravam-se.
Ele não entendia bem o que a encantava, muito menos ela, o que o atraia, mas ambos sabiam exatamente o que possuíam no outro, e era tanto de cada um!
Muitas vezes flagravam-se tão permissivos e riam, por que a permissão nunca foi exatamente o forte dos dois, mas quando estavam juntos era diferente... Tudo era diferente...
E o que há de mais encantador nisso tudo: é que não houve exatamente um começo, e pelo que sinto como mera observadora, não terá fim...

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