"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! "

Eça de Queiroz - O primo Basílio

quarta-feira, 17 de março de 2010

Paixão de Cristo do Moreno


Paixão de Cristo do Moreno - PE

terça-feira, 16 de março de 2010

Distração - Christiann Oyens e Zélia Ducan


Se você não se distrai, o amor não chega
A sua música não toca
O acaso vira espera e sufoca
A alegria vira ansiedade
E quebra o encanto doce
De te surpreender de verdade

Se você não se distrai, a estrela não cai
O elevador não chega
E as horas não passam
O dia não nasce, a lua não cresce
A paixão vira peste
O abraço, armadilha

Hoje eu vou brincar de ser criança
E nessa dança, quero encontrar você
Distraído, querido
Perdido em muitos sorrisos
Sem nenhuma razão de ser

Se você não se distrai,
Não descobre uma nova trilha
Não dá um passeio
Não rí de você mesmo
A vida fica mais dura
O tempo passa doendo
E qualquer trovão mete medo
Se você está sempre temendo
A fúria da tempestade

Hoje eu vou brincar de ser criança
E nessa dança, quero encontrar você
Distraído, querido
Perdido em muitos sorrisos
Sem nenhuma razão de ser

Olhando o céu, chutando lata
E assoviando Beatles na praça
Olhando o céu, chutando lata
Hoje eu quero encontrar você

quarta-feira, 10 de março de 2010



Eu tinha pavor ao silêncio. Não posso negar que algo parecido com a aflição tomava-me a mente, e o meu corpo burro, respondia aos seus apelos...
Quando a noite chegava, subia-me o frio na espinha. Era a hora dele. Havia cumplicidade na tarde que caia, dando espaço para o oportunista entrar...
Na penumbra, nem era notado... De repente lá estava ele, instalado de “ mala e cuia”. Trazia de tudo e parecia que ia ficar por uma eternidade.
Eu corria, assustada para ligar a TV, acender as luzes! Mas era tarde! Jazia dentro de mim a coragem!
Sentada no sofá, meus olhos esforçavam-se para fixar-se na imagem da TV, meus ouvidos atentos, buscavam o som, o alento nas histórias simples dos folhetins, mas algo em mim gritava, tirando-me a atenção.
Ele estava em mim... O silêncio! Pshiii! Como fazia barulho, o intruso! Trazia-me tudo ao mesmo tempo, lembranças, medos, palavras que eu não disse, as dores que eu causei, as dores que eu senti, as minhas briguinhas internas, picuinhas que o tempo apenas bloqueia. Tudo! De uma só vez ! Sem piedade!
Não demorei a perceber o seu entrosamento com a Solidão, "a senhora da noite", era ela chegando e ele aparecendo, do nada! Viviam de namoro os malvados. Riam de mim, caçoavam!
Um dia, resolvi passar a perna neles. Disse para mim mesma: - Hoje nesta casa a solidão não entra! - Não é que funcionou!!! A noite chegou, abri a porta, mas disse para àquela senhora: - Essa casa é pequena demais para nós três - ela não entrou, e ele simplesmente não veio... Eureca! Eu ria à toa! Eles não me incomodariam mais. Nunca mais o silêncio habitaria em mim... nunca mais!
Mas o tempo não é como tantos dizem, sempre um aliado. Vive em cima do muro, não toma partido e se insinua o danado, descaradamente para suas emoções... e o pior, quando a tola se transforma numa presa fácil ele simplesmente passa... se você não for esperta e não o dominar, ele domina você. Não, não foi o caso! Aliciei o tempo e o tornei aliado, fui madrinha do casório dele, com as minhas emoções que o acompanha até hoje e são apaixonados um pelo outro.
Pois bem, ele o tempo, retribuiu o meu agrado e me trouxe um presente: Um dia distraída, percebi que estava sozinha...De novo. A solidão tinha voltado a me visitar... O silêncio veio junto, timidamente escondido embaixo das suas saias. Restou-me rir da situação...
Eles, não me incomodam mais. Somos amigos. E acho que os amo! Do meu jeito, assim, fingindo que não sei do bem que eles me fazem. Hoje são partes de mim.
E habitam em harmonia com as minhas emoções e com o tempo claro... Sábio e eficaz em suas artimanhas.

sábado, 6 de março de 2010



Um abismo é onde me enxergo ... talvez... Mas quem sabe tudo não passa de um sonho angustiante? Preciso acordar! É inconcebível continuar a sonhar com essa nítida sensação de realidade fria, brusca... Os sonhos não eram assim antes. Não os meus!
Gostaria de fugir do que não entendo, carregando esse peso por ruas distantes. Mas esse estranho jeito de amar, descobre-me por entre os becos nos quais me escondo, invade-me, questiona-me. O que queres de mim? Tenho medo de revelar-me e descobrir-me frágil...
A fragilidade é mal quista entre os racionais.
É isso? Um pesadelo... Estou só? Gostaria de gritar por socorro, mas não saberia explicar o motivo.
Inquieta, percorro as minhas entranhas e o máximo que consigo externar é um olhar inseguro e marejado, ansioso pelo encontro de olhares bem mais doces e serenos, que afaguem minha alma, acalentando-a, perdoando-a pelo temor, pelo amor maldito que perdeu a fé e apressou-se em fugir, em sumir do mundo...
Inferno! Por que me persegues, roubando-me os sonhos fantasiosos? Por que me atormentas trazendo-me de volta para esse pesadelo? Para a mesma frieza, o mesmo canto de parede sem lembranças... pálida, vazia, onde eu me destaco, exposta as ironias, as tiranias, as críticas... assim, como um quadro de pinceladas fortes, que sugere milhões de possibilidades, mas de fato, não diz nada de interessante a ninguém.

quinta-feira, 4 de março de 2010



A menina corria, envolta em pensamentos confusos. Sentia o rosto salgado das lágrimas que o vento secava, à medida que os olhos transbordavam mágoas,
Desilusões, decepções...
Corria ofegante, fugia de qualquer coisa; do passado, do presente... Mas, mesmo fazendo caminhos diversos, mudando o rumo, descomprometida com o caminho de volta, não conseguia fugir do futuro.
Pensava que ele a perseguia... Bobinha...De fato, ela o seguia, e apressada, porque corria.
Corria, ensandecida, ávida por um lugar seguro, onde pudesse esconder-se do tempo,
Presente, passado ou futuro...Buscava um lugar onde as lembranças não costumassem fazer visitas inesperadas e incovenientes.
Ela também corria, porque pensava que na pressa, podia esquecer de si mesma, em algum lugar do caminho.
Julgava que na correria sua alma se perderia e o seu corpo seguiria...sozinho...