"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! "

Eça de Queiroz - O primo Basílio

terça-feira, 2 de novembro de 2010

UM NOVO FIM


Vislumbro novas possibilidades...
Consigo enxergar as cores, a energia boa dos que chegam,
Dos que contemplam o novo,
Dos que sentem o ímpeto de recomeçar um novo dia...
Reflexos de uma mente inquieta.

Uma emoção que flui através dos incontáveis rostos, sorrisos, histórias...

Entre os transeuntes um reencontro...
Como não sabê-lo aqui novamente, trazendo-me o riso amigo, o abraço antigo, sentido e tão familiar!

De onde viemos trouxemos tanto querer...

Ah! Que essa energia perdure!
Deus, que não se baste! Imploro...
Um simples olhar, um sorriso e Percebemos o quanto de nós há dentro de nós. Sentimentos latentes devido a uma ausência prolongada,
carentes das mesmas emoções de tantas outras passagens ...

Se fulgás, lamento, sofro. Viajamos muito para tão pouco e a minha alma, já pressentia essa presença amiga, há tanto, que vinha mudando o meu rumo, levando-me ao hoje, trazendo-me aqui...
Onde em cada movimento, reconheço-me, espectadora de um recomeço, escrevendo um novo fim.

sábado, 18 de setembro de 2010

Mudanças e recomeços...


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa


Todo mês, isso é sagrado, fazemos uma reunião, eu e minhas primas. Primas, irmãs, confidentes... enfim, falamos sobre mudanças no nosso ultimo encontro... mudanças, recomeços... mudar para recomeçar ou recomeçar uma mudança que um dia existiu repleta de coragem mas se arrefeceu com as decepções e tudo voltou a ser como antes...ou seja, também aí houve um recomeço.
Estou imaginando minha prima Helena lendo isso e dizendo: "Que texto é esse? Que viajem de Tatinha..."
Serei mais explícita então: Falo de uma mudança simples, não exige necessáriamente sérias reflexões e introspecções, mas é uma mudança!
Nossa, quanto suspense!
Eu vou mudar de casa!!!! É isso! Um recomeço para mim, de algo que um dia havia esboçado um sorriso. Um dia, quando me casei e construi o meu castelo, certa de que estava sendo salva de um dragão. Doce ilusão! Não fui salva. Foi um dragão que me sequestrou!!!!kkk
Mas agora é diferente. Deixo aqui o meu antiquario de alegrias e tristezas compartilhadas por um cantinho que cheira a novidade, com a minha cara desenhada em cada metro quadrado e só meu. Terei crise de abstinência meu Deus? Eu e as minhas paredes cheirando a tinta? Não. Duvido muito. E sabe por que não sentirei saudades da minha casa cheia? Porque ela continuará cheia, repleta de esperanças de dias melhores, cercada pela energia boa dos que me amam e me querem feliz. Um sonho que quero continuar compartilhando não só com as minhas paredes, mas com os de sempre... pai, mãe, irmão, sobrinhos, primas lindas e amigos... Testemunhas de uma mudança, uma mudança não definitiva, mas flexível, aberta para muitas outras. Uma mudança que transforma semblantes. Pelo menos o meu que agora, é pleno de alegria, e que espero, perdure.
Um recomeço como tantos outros que já ousei... mas diferente, com sabor de festa!!!!!!
E que Deus me abençõe, como o pai que abençõa a filha ao sair de casa todos os dias, porque está certo de que ela tem seu cantinho, sempre intocável se resolver voltar. O meu está no coração dos que amo! Minha residência fixa. Minha verdadeira morada!Bença Pai!!!!! Bença mãe!!!!


Renata Phaelante

domingo, 8 de agosto de 2010

DESVENDANDO-ME



Por vezes é a brisa, que folgosa brinca em meu corpo e me faz sutilmente mulher; a sentir os aromas, a sangrar pelas perdas escondidas em mensagens subliminares e a sorrir despudoradamente, sem motivo algum aparente...
Por vezes sou eu quem me embalo, aos acordes de um simples desejo e deixo-me levar pelos lampejos infantis de minha imaginação, com tanto querer, com tanta paixão, que quase me perco no caminho de volta.

sábado, 31 de julho de 2010

KESSIE - UM AMOR VERDADEIRO




Há alguns anos, eu fui vítima do seu olhar... Aquele olhar pidão e irresistível!
Era fim de março de 98 e meu ex marido, na época noivo, tentava me convencer a escolher um filhote da ninhada de sua cachorra Laika,que havia dado cria no dia 18 de fevereiro, (em pleno carnaval). Laika era uma cachorrinha da raça Poodle que por descuido, havia cruzado com um cooker chamado Boni. Desse amor efêmero nasceram cinco rebentos... Eu sempre adorei os cães, eles são fantásticos! Interagem conosco de tal maneira, que por pouco não os sentamos conosco à mesa para uma almoço em família. Na verdade alguns até sentam. Tenho uma tia chamada Margarida que comprou uma cadeirinha de bebê para que a sua cadelinha sentasse à mesa com ela para as refeições.
Bom voltando ao assunto: Aceitei ir até a casa do meu ex marido olhar os cãezinhos da ninhada, mas estava certa de que não poderia levar nenhum deles comigo, pois a minha mãe não queria cachorros dentro de casa. Alegava que dava muito trabalho, que a gente se apegava demais ao bichinho, que destruia os móveis e etc, etc, etc.
No entanto, ao ver os cachorrinhos alegres a brincar no quintal, fiquei encantada com todos, mas apenas um deles encantou-se comigo, na verdade foi uma cadelinha que apressou-se em vir ao meu encontro. Balançava o rabo desgovernadamente e tinha um olhar que dizia: "Oi, eu nasci para te amar". Não resisti. Ninguém resistiria àquela bolinha de pelo, acreditem.
Levei-a para casa, empanturreia de talquinho de bebê, coloquei um laçinho de fita vermelha bem grande no seu pescoço, arranjei uma cesta enfeitada, dessas que a gente ganha com café da manhã e coloquei-a dentro... cheguei no quarto da minha mãe e disse: "Olha mãe, que bebê mais lindo!" Minha mãe respondeu: "Renata, nem pense nisso". Tirei-a da cesta e colouei-a nos braços de minha mãe... o resto foi a cachorrinha que fez... ela fez exatamente a mesma carinha que havia feito pra mim e desse dia em diante, passei a ter uma irmã que era uma cadela. kkk
Colocamos o nome dela de Kessie e ela cumpriu a risca tudo que a minha mãe havia dito: Deu trabalho, destruio os móveis e nós nos apaixonamos perdidadamente por ela.
Kessie é a melhor cachorra do mundo! Sensível, inteligente, apaixonada por todos nós, companheira. Ela é muito superior a nós, humanos... muito superior... humilde, doce e amiga. Sem dúvida um dos maiores presentes que papai do céu me deu, foi a sua companhia.
Minha amiga, hoje tem 12 anos e está muito doentinha. Tem cancer nos ossos e metástase no pulmão, no baço e nos rins...
E eu estou aqui, pedindo para que essa historinha chegue até Deus como uma prece, para que a minha Kessie possa partir em paz e sem dores, pois ela nunca foi capaz de provocar dor em ninguém. Não tenho coragem de optar pela eutanasia, pois acredito que todo ser vivo tem uma missão nessa terra e que Deus é quem sabe o tempo, o momento certo do término dessa missão.
Não sinto revolta, apenas a dor de uma saudade infinita que já começou antes dela partir. Venho também e principalmente, agradecer a Deus por cada segundo vivido e compartilhado com Kessie. A melhor amiga do mundo!
Sentirei muita falta ao chegar em casa, quando você não mais for me receber na porta com alegria, balançando o seu rabinho desgovernadamente e anunciando para toda a casa que o seu presente chegou. É assim que eu me sinto todos os dias: "Um presente para Kessie".
Obrigada pai, por esse amor verdadeiro em minha vida! Obrigada Kessie, pelo tanto que me ensinou... Eu te amo e sempre te amarei!
Agora eu preciso desligar esse computador e aproveitar o tempo que nos resta... Te retribuindo com todo amor que possuo o fato de um dia, voce ter me escolhido e mudado a minha vida.
Com amor...
Renata

"Um cão é a única coisa na terra que o ama mais do que ama a sí mesmo."

( Josh Billings )

sábado, 17 de julho de 2010

ESQUEÇA-ME


Faça-me um favor
ESQUEÇA-ME
Ser lembrada é como um ritual para acordar os mortos.
Ser lembrada é efêmero, fulgaz
É como não ser mais
não pertencer mais
não possuir mais
não seduzir mais
Ser lembrada é abrir os olhos
sem acordar
É como ver o dia raiar
e não amanhecer com o dia
Ser lembrada é como querer falar
e permanecer calada
É como ter fome
e não poder saciá-la
Ser lembrada é como comer um doce diet
Ser lembrada é um tédio

terça-feira, 8 de junho de 2010

SEMANA DO MEIO AMBIENTE



Ufa!!! Respiro aliviada por mais um dever cumprido! Há três anos venho realizando trabalhos para apresentação na Semana do meio Ambiente. Mas nesse ano, a programação foi intensa. Eu e minha equipe em parceria com a CPRH ( Agência estadual do meio Ambiente), realizamos dois lindos trabalhos que foi assistido por pelo menos 3.000 crianças da Rede estadual e municipal de ensino, com apresentações no Espaço Ciência, na Fundação Gilberto Freyre, no Horto de Dois irmãos, nos Municípios do Cabo de Santo Agostinho e do Carpina, além de marcarmos presença também na entrega do Prêmio Vasconcelos Sobrinho, na Casa de Recepções Porto Fino !
Foram ao todo, 13 apresentações em sete dias. ( 04 do espetáculo "E eu com Isso?", 07 do espetáculo "Lata Late?", e 02 esquetes do "E Eu com Isso?", todos textos de Franci Palhano, direção de Ricardo Mourão e minha produção em parceria dessa vez com Pedro Jardim.)
Um corre corre de montagem e desmontagem de cenário... A adrenalina a MIL!!!! Valeu a pena!
Agradeço de coração a toda minha equipe pela entrega, pelo carinho e disposição. Não posso esquecer claro, da equipe da CPRH, da Franci e das meninas da assessoria de comunicação que nos deu todo apoio que precisamos. Ao elenco: Adriano Cabral, Angélica Gouveia, Eduardo Japiassú, Luiz Paulo Pontes, Rodrigo mendonça e Talita Lima, que estiveram impecáveis.
A Célia, nossa camareira; Horácio Falcão, iluminador; Alex, sonoplasta e Pedro jardim, o assistente de produção revelação do ano! kkkk

Lindos... meu coração está agradecido e feliz por esse trabalho. Principalmente agradecido a Deus por ter nos feito artistas conscientes da nossa responsabilidade social.
Beijos e até uma próxima oportunidade, que espero eu, venha em breve!!!!!!

terça-feira, 20 de abril de 2010

A CARA DO CARA


A cara do cara
sentado
calado
olhando pro nada
me diz tanta coisa
Se é sobre o tempo
de luta que fala
um som magoado no peito ecoa
Um grito calado
gritado pra dentro
entoa um canto
de encanto pras almas
Algozes chicotes
sangrando a carne
Tá tudo gravado
na cara do cara...

quarta-feira, 17 de março de 2010

Paixão de Cristo do Moreno


Paixão de Cristo do Moreno - PE

terça-feira, 16 de março de 2010

Distração - Christiann Oyens e Zélia Ducan


Se você não se distrai, o amor não chega
A sua música não toca
O acaso vira espera e sufoca
A alegria vira ansiedade
E quebra o encanto doce
De te surpreender de verdade

Se você não se distrai, a estrela não cai
O elevador não chega
E as horas não passam
O dia não nasce, a lua não cresce
A paixão vira peste
O abraço, armadilha

Hoje eu vou brincar de ser criança
E nessa dança, quero encontrar você
Distraído, querido
Perdido em muitos sorrisos
Sem nenhuma razão de ser

Se você não se distrai,
Não descobre uma nova trilha
Não dá um passeio
Não rí de você mesmo
A vida fica mais dura
O tempo passa doendo
E qualquer trovão mete medo
Se você está sempre temendo
A fúria da tempestade

Hoje eu vou brincar de ser criança
E nessa dança, quero encontrar você
Distraído, querido
Perdido em muitos sorrisos
Sem nenhuma razão de ser

Olhando o céu, chutando lata
E assoviando Beatles na praça
Olhando o céu, chutando lata
Hoje eu quero encontrar você

quarta-feira, 10 de março de 2010



Eu tinha pavor ao silêncio. Não posso negar que algo parecido com a aflição tomava-me a mente, e o meu corpo burro, respondia aos seus apelos...
Quando a noite chegava, subia-me o frio na espinha. Era a hora dele. Havia cumplicidade na tarde que caia, dando espaço para o oportunista entrar...
Na penumbra, nem era notado... De repente lá estava ele, instalado de “ mala e cuia”. Trazia de tudo e parecia que ia ficar por uma eternidade.
Eu corria, assustada para ligar a TV, acender as luzes! Mas era tarde! Jazia dentro de mim a coragem!
Sentada no sofá, meus olhos esforçavam-se para fixar-se na imagem da TV, meus ouvidos atentos, buscavam o som, o alento nas histórias simples dos folhetins, mas algo em mim gritava, tirando-me a atenção.
Ele estava em mim... O silêncio! Pshiii! Como fazia barulho, o intruso! Trazia-me tudo ao mesmo tempo, lembranças, medos, palavras que eu não disse, as dores que eu causei, as dores que eu senti, as minhas briguinhas internas, picuinhas que o tempo apenas bloqueia. Tudo! De uma só vez ! Sem piedade!
Não demorei a perceber o seu entrosamento com a Solidão, "a senhora da noite", era ela chegando e ele aparecendo, do nada! Viviam de namoro os malvados. Riam de mim, caçoavam!
Um dia, resolvi passar a perna neles. Disse para mim mesma: - Hoje nesta casa a solidão não entra! - Não é que funcionou!!! A noite chegou, abri a porta, mas disse para àquela senhora: - Essa casa é pequena demais para nós três - ela não entrou, e ele simplesmente não veio... Eureca! Eu ria à toa! Eles não me incomodariam mais. Nunca mais o silêncio habitaria em mim... nunca mais!
Mas o tempo não é como tantos dizem, sempre um aliado. Vive em cima do muro, não toma partido e se insinua o danado, descaradamente para suas emoções... e o pior, quando a tola se transforma numa presa fácil ele simplesmente passa... se você não for esperta e não o dominar, ele domina você. Não, não foi o caso! Aliciei o tempo e o tornei aliado, fui madrinha do casório dele, com as minhas emoções que o acompanha até hoje e são apaixonados um pelo outro.
Pois bem, ele o tempo, retribuiu o meu agrado e me trouxe um presente: Um dia distraída, percebi que estava sozinha...De novo. A solidão tinha voltado a me visitar... O silêncio veio junto, timidamente escondido embaixo das suas saias. Restou-me rir da situação...
Eles, não me incomodam mais. Somos amigos. E acho que os amo! Do meu jeito, assim, fingindo que não sei do bem que eles me fazem. Hoje são partes de mim.
E habitam em harmonia com as minhas emoções e com o tempo claro... Sábio e eficaz em suas artimanhas.

sábado, 6 de março de 2010



Um abismo é onde me enxergo ... talvez... Mas quem sabe tudo não passa de um sonho angustiante? Preciso acordar! É inconcebível continuar a sonhar com essa nítida sensação de realidade fria, brusca... Os sonhos não eram assim antes. Não os meus!
Gostaria de fugir do que não entendo, carregando esse peso por ruas distantes. Mas esse estranho jeito de amar, descobre-me por entre os becos nos quais me escondo, invade-me, questiona-me. O que queres de mim? Tenho medo de revelar-me e descobrir-me frágil...
A fragilidade é mal quista entre os racionais.
É isso? Um pesadelo... Estou só? Gostaria de gritar por socorro, mas não saberia explicar o motivo.
Inquieta, percorro as minhas entranhas e o máximo que consigo externar é um olhar inseguro e marejado, ansioso pelo encontro de olhares bem mais doces e serenos, que afaguem minha alma, acalentando-a, perdoando-a pelo temor, pelo amor maldito que perdeu a fé e apressou-se em fugir, em sumir do mundo...
Inferno! Por que me persegues, roubando-me os sonhos fantasiosos? Por que me atormentas trazendo-me de volta para esse pesadelo? Para a mesma frieza, o mesmo canto de parede sem lembranças... pálida, vazia, onde eu me destaco, exposta as ironias, as tiranias, as críticas... assim, como um quadro de pinceladas fortes, que sugere milhões de possibilidades, mas de fato, não diz nada de interessante a ninguém.

quinta-feira, 4 de março de 2010



A menina corria, envolta em pensamentos confusos. Sentia o rosto salgado das lágrimas que o vento secava, à medida que os olhos transbordavam mágoas,
Desilusões, decepções...
Corria ofegante, fugia de qualquer coisa; do passado, do presente... Mas, mesmo fazendo caminhos diversos, mudando o rumo, descomprometida com o caminho de volta, não conseguia fugir do futuro.
Pensava que ele a perseguia... Bobinha...De fato, ela o seguia, e apressada, porque corria.
Corria, ensandecida, ávida por um lugar seguro, onde pudesse esconder-se do tempo,
Presente, passado ou futuro...Buscava um lugar onde as lembranças não costumassem fazer visitas inesperadas e incovenientes.
Ela também corria, porque pensava que na pressa, podia esquecer de si mesma, em algum lugar do caminho.
Julgava que na correria sua alma se perderia e o seu corpo seguiria...sozinho...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

AMANTES


Corpos ávidos de afagos
Sublimam sentimentos nos toques
No murmúrio das palavras desavergonhadas...
Cai o véu dos pudores
Saciando os desejos
Nos apertos
Nos abraços e beijos
Na sublime intimidade
Na cumplicidade das mãos...
Entregam-se os sentidos
E ofegantes embalam-se enternecidos
Na cadência de cada movimento...
Adormecem amantes até o amanhecer...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

HERANÇA



De ti não só herdei os meneios, como o olhar distante,
A necessidade de permanecer só, a beleza inconstante...
De ti herdei as perdas, os degraus do antigo casarão, o desejo de desvencilhar-me das correntes que me aprisionam a alma.
De ti herdei os gestos repetitivos e incansáveis, a insanidade das buscas antigas e tão distintas, precisas e tão fulgazes...
De ti herdei o medo eo apego pelas coisas frágeis.
De ti herdei o tanto que larguei pelo caminho...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

CUMPLICES




Olhavam-se por horas... Buscavam um alento, algo mais que um olhar.
Sentiam-se bem um com o outro... Às vezes nem mesmo as palavras faziam falta.
Era bom ouvir o silêncio de cada um. Entendiam-se mais...
Não. Nunca houve dúvidas.
Havia sim, o medo de que o tempo, fosse novamente o algoz de suas vidas e acabasse com as suas fantasias...
Haviam sofrido. Ah! Sim, esse era um detalhe importante. Em alguns a entrega não deixa marcas tão profundas, mas com eles tinha sido diferente... Eram sensíveis, muito sensíveis, e embora essas marcas hoje fossem apenas cicatrizes, ainda queimavam, ainda ardiam insistentemente, lembrando-lhes um passado não muito distante.
Mas eles eram felizes quando estavam juntos. E não precisavam de muito, na verdade eles tinham exatamente tudo o que precisavam quando estavam juntos... Eram adultos, eram crianças, eram frágeis e fortes...
Eram belos! De uma beleza singular, porque assim se viam, absolutamente cheios de defeitos, mas acima de tudo humanos. Admiravam-se.
Ele não entendia bem o que a encantava, muito menos ela, o que o atraia, mas ambos sabiam exatamente o que possuíam no outro, e era tanto de cada um!
Muitas vezes flagravam-se tão permissivos e riam, por que a permissão nunca foi exatamente o forte dos dois, mas quando estavam juntos era diferente... Tudo era diferente...
E o que há de mais encantador nisso tudo: é que não houve exatamente um começo, e pelo que sinto como mera observadora, não terá fim...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Amor eterno


Sim!
Eu quero dar-te o prazer dessa dança...
Perdoa-me! Não há como poupar-te das lágrimas
Que insistem em rolar-me as faces.
São as lembranças...
Tão fortes agora. Lembro-me de ti,
Quando eu ainda era risos e a juventude em flor
Fazia-se mulher em mim a cada amanhecer
Desvendando-me...
Sim, como negar?
Aceito o teu convite para dançar.
Acolhe-me agora em teu peito
Envolve-me, que o teu braço forte
Será o repouso desse corpo cansado,
Mas ainda vivo!
Escuta a melodia singela...
Sim.
Eu quero dar-te o prazer dessa dança!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

ES PE RAN ÇA





Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

* Mário Quintana In: Nova antologia poética *