"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! "

Eça de Queiroz - O primo Basílio

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

HERANÇA



De ti não só herdei os meneios, como o olhar distante,
A necessidade de permanecer só, a beleza inconstante...
De ti herdei as perdas, os degraus do antigo casarão, o desejo de desvencilhar-me das correntes que me aprisionam a alma.
De ti herdei os gestos repetitivos e incansáveis, a insanidade das buscas antigas e tão distintas, precisas e tão fulgazes...
De ti herdei o medo eo apego pelas coisas frágeis.
De ti herdei o tanto que larguei pelo caminho...

Nenhum comentário:

Postar um comentário