"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! "

Eça de Queiroz - O primo Basílio

sábado, 6 de março de 2010



Um abismo é onde me enxergo ... talvez... Mas quem sabe tudo não passa de um sonho angustiante? Preciso acordar! É inconcebível continuar a sonhar com essa nítida sensação de realidade fria, brusca... Os sonhos não eram assim antes. Não os meus!
Gostaria de fugir do que não entendo, carregando esse peso por ruas distantes. Mas esse estranho jeito de amar, descobre-me por entre os becos nos quais me escondo, invade-me, questiona-me. O que queres de mim? Tenho medo de revelar-me e descobrir-me frágil...
A fragilidade é mal quista entre os racionais.
É isso? Um pesadelo... Estou só? Gostaria de gritar por socorro, mas não saberia explicar o motivo.
Inquieta, percorro as minhas entranhas e o máximo que consigo externar é um olhar inseguro e marejado, ansioso pelo encontro de olhares bem mais doces e serenos, que afaguem minha alma, acalentando-a, perdoando-a pelo temor, pelo amor maldito que perdeu a fé e apressou-se em fugir, em sumir do mundo...
Inferno! Por que me persegues, roubando-me os sonhos fantasiosos? Por que me atormentas trazendo-me de volta para esse pesadelo? Para a mesma frieza, o mesmo canto de parede sem lembranças... pálida, vazia, onde eu me destaco, exposta as ironias, as tiranias, as críticas... assim, como um quadro de pinceladas fortes, que sugere milhões de possibilidades, mas de fato, não diz nada de interessante a ninguém.

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