"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! "

Eça de Queiroz - O primo Basílio

domingo, 18 de outubro de 2009

MENINA DE ASAS



















Queria a liberdade e deram-lhe asas... Sorriu maliciosa e voou!

- Enfim livre! - pensou.

Sentiu-se dona do céu e do alto, avistou a imensidão do mar. Todo azul do mar cabia na pupila dos seus olhos...

- Daqui é tudo tão pequeno! - dizia quase desencantada.

Avistava a linha do horizonte e ouvia uma voz que a chamava:

- " Vem! É preciso que você toque a linha..."

Sabe aquela linha onde o céu começa e o mar termina? A voz chamava-a para lá.
Dizia que havia um portal, que dava acesso a um outro mundo, onde tinha uma outra linha, que abriria mais mundos para os seus olhos...
A menina estava encantada com as novas possibilidades, um sorriso enorme brilhava em seu rosto!

- Ah! Mundinho pequeno para quem tem asas! - assim passou a pensar.

Mas a tal linha se afastava à medida que voava na sua direção

- Eu jurava que era aqui! - dizia a se lamentar...

Pobre menina de asas! Não sabia ser livre mantendo a alma serena.
Deram-lhe asas, para que percebesse as pequenas coisas e ela só enxergava as coisas pequenas...

Passou a pesar-lhe as asas, seu corpo curvou-se ao chão... Rasteja chorosa... Sente saudades do pouco da imensidão que cabia nos seus olhos.

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